Toma posse hoje(*) na Câmara Federal os 513 deputados eleitos pelo povo brasileiro para um mandato de 4 anos. Desses, 46 são do estado do Rio de Janeiro. Para quem não sabe, o deputado federal mais votado no Rio de Janeiro foi Hélio Fernandes Barbosa Lopes, vulgo “Hélio Negão”, que aparece ao lado de Bolsonaro nesta live. Se você sabe pouco sobre ele, então somos dois. Hélio foi mais um daqueles fenômenos eleitorais imprevisíveis e meteóricos ocorridos na última eleição, semelhante ao que aconteceu na disputa para o cargo de governador e resultou na vitória do então desconhecido Wilson Witzel.
Hélio, dois anos antes, havia sido candidato a vereador em Nova Iguaçu e obtido apenas 480 votos. Mas na última eleição, para deputado federal, saltou para 345 mil votos. Impressionante! Alguns de seus simpatizantes chamaram a atenção para o fato de ele ser um negro eleito sem fazer “vitimismo”. Outros disseram que o movimento negro, mais relacionado ao espectro político da esquerda, não deu a devida importância ao fato de o candidato mais votado do RJ ser negro, somente porque esse candidato é alinhado à direita.
Então, ao que interessa: uma possível resposta a essas críticas está na própria foto. Hélio Negão veste uma camisa branca com o rosto de Margaret Thatcher. Para quem não sabe, Margaret Thatcher foi primeira-ministra do Reino Unido nas décadas de 70/80 e deu apoio político ao regime de apartheid que vigorou na África do Sul por mais de 40 anos. O regime segregava negros e brancos e limitava os negros a serem cidadão de segunda classe. A eles não era permitido votar, frequentar determinados locais públicos, possuírem terras e terem relações sexuais com pessoas brancas.
Por lutar contra o regime de apartheid, Nelson Mandela, um dos maiores líderes negros da história, foi chamado de “terrorista” por Margaret Thatcher, de quem Hélio Negão é declaradamente fã. Você não entendeu errado. Hélio Negão é fã de uma primeira-ministra branca e europeia que chamou de terrorista um líder político negro que lutou para que pessoas como o próprio Hélio tivessem o direito de votar, ser votado e tomar posse, coisa que o Hélio está fazendo hoje.
Qual a explicação para que pessoas como Hélio Negão abrace tendências políticas aparentemente tão contraditórias? Síndrome de Estocolmo? Analfabetismo político e histórico? Tenho minha opinião. Mas certamente cor da pele não basta sem levar em conta as causas pelas quais se luta. O ser humano é contraditório e exemplos disso é o que não faltam. Resta torcer para que Hélio Negão honre seus milhares de votos e represente bem o povo do RJ, negros, brancos e etc.
* Texto originalmente publicado no dia 1° de fevereiro de 2019, no Facebook do autor.
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