sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Os riscos do projetismo


Você já experimentou um projeto? Eles estão por aí. Pode ser um podcast, um grupo de humor, montar uma banda, escrever um livro, criar uma página em rede social ou canal no Youtube. Os projetos funcionam melhor entre as elites, que normalmente podem se dedicar a eles sem complicação. Em muitos casos, é até saudável ter um projeto. 

Mas o projetismo se torna um problema nas camadas populares, em que os indivíduos precisam de um emprego e de uma mínima estabilidade para dar conta de suas necessidades básicas e pagamento de boletos. Entre os jovens de periferia, os projetos são ainda mais perigosos. Em casos mais graves, alguns se envolvem até com curta-metragens, destinados a circuitos alternativos de exibição, ironicamente concentrados em áreas nobres que ficam distantes de onde eles e seus familiares residem. 

Mas por que tantas pessoas, principalmente aquelas mais jovens, recorrem a projetos? E, mais do que isso, por que muitas criam dependência? Não se sabe ao certo, mas estudos apontam que ao aderir a um projeto e se dedicar a ele, a pessoa experimenta a sensação de ser ela mesma, sente que está fazendo algo inteiramente integrado a sua própria vontade, ao seu jeito de ser, às suas aptidões (ou às aptidões que ela julga ter). 

A sensação de ser você mesmo é muito viciante e, para alguns, que não estão aptos a senti-la, pode se tornar um risco. Muitos acabam embarcando numa espécie de “bad trip”. Uma amiga de bairro, por exemplo, decidiu ser escritora. Ela não tinha nenhum contato no mercado editorial e nenhuma aproximação com o círculo literário, mas se sentia bem usando literatura, que às vezes consumia misturada à poesia. Publicou um livro por meio dessas editoras que cobram do próprio autor. Imprimiu mil cópias, mas só vendeu cinco. Em um dia muito louco de bad trip, fez uma fogueira com os outros 995 exemplares e se atirou em cima. Foi salva pela família.

Desde então, passou um tempo internada numa dessas clínicas de reabilitação de ex-projetistas. Nessas casas é feito um trabalho que inclui cursos técnicos e profissionalizantes, horas de estudo para concurso público, leitura em grupo de edital de concurso, dentre outras atividades que ressocializem o indivíduo na ponta da prestação de um serviço ou no chão da fábrica. Os mais sortudos saem das clínicas já empregados.      

Projetismo: chique e descolado para uns; perigoso para outros! 

PS: se você está envolvido com algum projeto, procure a ajuda de um especialista. Converse com os seus familiares. Saiba dosar os riscos e benefícios. Em alguns casos, se alguém te oferecer um projeto, não tenha vergonha em dizer não!


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